A Câmara de Comércio Checo-Cabo-Verdiana dedica-se ao desenvolvimento de Cabo Verde, e por isso acompanho eventos que podem ser significativos para a República de Cabo Verde. O meu olhar não poderia deixar de recair sobre a feira internacional de turismo na Alemanha, a ITB Berlin 2025, onde mais uma vez ficou confirmada a atratividade de Cabo Verde como destino turístico. Deparei-me com um artigo publicado no Expresso das Ilhas, que me fez refletir. O artigo original pode ser lido AQUI.
O artigo destaca que Cabo Verde foi o segundo destino mais vendido no evento da Abreu, o que, à primeira vista, parece um grande avanço para o turismo nacional. Mas a questão essencial é: o que os cabo-verdianos realmente ganharam com isso?
Nos últimos anos, temos assistido a um crescimento acelerado do turismo, especialmente do modelo all inclusive. Hotéis multiplicam-se, estatísticas são partilhadas, e os números impressionam. Mas quando olhamos para a vida do cidadão comum, onde está esse desenvolvimento?
- O jovem cabo-verdiano tem hoje mais oportunidades?
- O sistema de saúde melhorou? Há mais hospitais e serviços acessíveis?
- A infraestrutura urbana reflete esse crescimento económico?
- O saneamento básico acompanha esse progresso?
- Os cabo-verdianos fora do setor turístico sentem esse avanço nas suas vidas?
A realidade é que, apesar dos altos números e do otimismo dos relatórios, o impacto direto na qualidade de vida da maioria da população continua questionável. Se o turismo está a gerar tantos rendimentos, por que razão ainda temos comunidades sem acesso a saneamento adequado, jovens sem oportunidades reais de emprego, hospitais sobrecarregados e dificuldades na habitação?
Não se trata de crítica vazia, nem de estar contra o turismo – pelo contrário! O turismo pode e deve ser uma força transformadora para o país. Mas para isso, é preciso garantir que os benefícios cheguem a todos os cabo-verdianos, e não apenas a um setor específico da economia.
Como cabo-verdiana, tenho o direito de questionar, de pedir transparência e, sobretudo, de exigir que o desenvolvimento não seja apenas um número bonito nos relatórios, mas uma realidade sentida na vida de cada cabo-verdiano.
Cabo Verde merece mais do que estatísticas de crescimento. Merece um progresso real, sustentável e inclusivo. 🇨🇻 Ainda podemos melhor isto, temos tempo suficiente para mudar para melhor
Autora: Eng. Mónica Sofia Duarte, MBA
Fonte: Expresso das Ilhas