Um momento que define a nossa nação

Cabo Verde enlouquece a celebrar a histórica qualificação para o Mundial

Quando o árbitro apitou para o fim do jogo, toda a Praia explodiu em celebração. Cabo Verde venceu o Eswatini por 3–0 e, pela primeira vez na história, qualificou-se para o Campeonato do Mundo da FIFA. Por todo o arquipélago — de Mindelo, em São Vicente, a Santa Catarina, em Santiago — as pessoas abraçavam-se, cantavam o hino e agitavam bandeiras. O Presidente José Maria Neves chamou o dia de “um momento que define a nossa nação”.

“Este é o nosso segundo Dia da Independência”, disse Neves num discurso improvisado no centro da Praia. “Mostrámos que mesmo uma pequena nação pode sonhar em grande.”

Celebrações e significado

Após o apito final, festas espontâneas encheram as ruas. Os carros buzinavam, os bares tocavam músicas de Cesária Évora e de rappers cabo-verdianos modernos, e formaram-se rodas de dança improvisadas à beira-mar. Na capital foi instalado um ecrã gigante onde milhares de pessoas se reuniram durante a noite.

“Eu era criança quando nos qualificámos pela primeira vez para a Taça das Nações Africanas,” disse a adepta Lúcia Barros. “Mas isto… isto é diferente. Isto é o mundo!”

O caminho até ao Mundial

O jogo contra o Eswatini teve um desfecho dramático. Depois de uma primeira parte sem golos, Dailon Rocha Livramento abriu o marcador, seguido por Willy Semedo e Stopira. O resultado confirmou a liderança de Cabo Verde no Grupo D, à frente dos Camarões, e garantiu o apuramento direto para o Mundial de 2026.

A campanha de qualificação começou um ano antes com uma vitória sobre a Libéria e ganhou força depois da vitória sobre os Camarões — uma equipa com cinco presenças anteriores em Mundiais. “Foi aí que percebemos que não era apenas um sonho,” disse o selecionador Bubista. “Sabíamos que tínhamos o que era preciso para ir até ao fim.”

A equipa da diáspora

Dos 25 jogadores convocados por Bubista, catorze nasceram fora de Cabo Verde — principalmente em Portugal, França ou nos Países Baixos. A Federação Cabo-verdiana de Futebol (FCF) tem-se apoiado há muito tempo na diáspora, que mantém fortes ligações às ilhas através da língua e das raízes familiares.

“Os nossos rapazes falam crioulo entre eles, mesmo que tenham crescido em Lisboa ou Roterdão,” explicou Bubista. “Quando jogam por Cabo Verde, sabem que representam todo um povo — não apenas as ilhas, mas milhões de cabo-verdianos em todo o mundo.”

Desafios financeiros e recompensa

Para um país com apenas meio milhão de habitantes, a infraestrutura desportiva é um luxo caro. A federação opera com um orçamento reduzido e depende frequentemente de patrocinadores privados e do apoio da FIFA. Por exemplo, o jogo fora na Líbia custou à federação quase 400 000 USD.

Contudo, a participação no Mundial mudará radicalmente essa realidade. A FIFA concede apoio financeiro de vários milhões de dólares às equipas apuradas. Esses fundos poderão melhorar os centros de treino, os estádios e os programas de formação de jovens. O Presidente Neves já anunciou que parte do dinheiro será investida na construção de um “centro nacional de futebol”.

Orgulho nacional

Para os cabo-verdianos, tanto no país como na diáspora, esta conquista tornou-se um símbolo de unidade. As redes sociais encheram-se de vídeos de Paris, Boston e Roterdão, mostrando pessoas a celebrar com as bandeiras das ilhas.

“Quando conquistámos a independência, sentimos que nos tornámos uma nação,” disse o antigo internacional Nuno Rocha. “Hoje tornámo-nos uma nação que o mundo pode ver.”


(Fonte: The Guardian, 14 de outubro de 2025)

 



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